A História do Cacau: O Ouro Castanho das Civilizações Antigas

by | Fev 20, 2025 | Geral | 0 comments

A História do Cacau: O Ouro Castanho das Civilizações Antigas

O cacau tem uma história fascinante que remonta a milhares de anos. Olmecas, Maias e Astecas foram algumas das civilizações da América Central e do Sul que cultivaram e valorizaram o cacau, transformando-o em bebidas utilizadas em rituais, celebrações e até como moeda.

Mas como começou esta relação entre o homem e o cacau? E como essa bebida sagrada chegou à Europa, dando origem ao chocolate que conhecemos hoje?

Bebidas de cacau: de onde surgiram?

As evidências arqueológicas mostram que as primeiras bebidas de cacau foram consumidas há mais de 4.000 anos. A civilização Olmeca, uma das mais antigas da Mesoamérica, foi provavelmente a primeira a domesticar o cacaueiro e a preparar bebidas de cacau para usos medicinais e cerimoniais.

No México, foi encontrado um recipiente de cerâmica datado de 1900 a.C., com vestígios de bebida de cacau. Este achado mostra que, desde cedo, o cacau era apreciado não apenas pelo seu sabor, mas pelos seus potenciais benefícios.

No entanto, foram os Maias e os Astecas que deixaram o maior legado sobre o consumo do cacau e a preparação de bebidas rituais.

Os Maias e o Cacau: Uma Dádiva dos Deuses

A civilização Maia floresceu entre 250 e 900 d.C. na região que hoje compreende o sul do México, Guatemala, Belize, Honduras e El Salvador. Eram um povo com um conhecimento avançado em matemática, astronomia, escrita e arquitetura.

Para os Maias, o cacau era um presente dos deuses. Chamavam-lhe “kakaw” e consideravam-no sagrado. A bebida de cacau era presença obrigatória em cerimónias religiosas, casamentos e funerais. Além disso, acreditavam que dava energia, aumentava a resistência e possuía propriedades afrodisíacas.

O cacau também desempenhava um papel fundamental na economia Maia. As sementes de cacau eram usadas como moeda, e o seu valor era tão alto que 100 grãos de cacau podiam comprar um escravo.

Curiosamente, um estudo publicado na revista Nature Plants em 2019 revelou que os Maias chegaram a falsificar sementes de cacau. Foram encontradas sementes feitas de argila cobertas com cacau em pó em túmulos Maias, datadas de 600 a.C.. As razões para essa falsificação ainda são um mistério, mas podem estar relacionadas com a escassez de cacau ou o seu valor simbólico.

Como os Maias preparavam a bebida de cacau?

Os Maias seguiam um processo meticuloso, semelhante ao que se usa hoje na produção de chocolate artesanal bean-to-bar:

  1. Fermentavam, secavam e torravam os grãos de cacau.
  2. Moíam os grãos num metate até obter uma pasta.
  3. Misturavam a pasta com água quente e adicionavam especiarias como canela, pimenta, baunilha e mel.
  4. A bebida era despejada de jarro em jarro para criar espuma, um detalhe essencial na tradição Maia.

Ainda hoje, em algumas comunidades Maias, esta técnica é preservada e utilizada.

Os Astecas e o Cacau: A Bebida dos Imperadores

Os Astecas, que surgiram mais tarde, por volta de 1428, herdaram a cultura do cacau dos Maias, mas com algumas diferenças. No seu império, o cacau continuou a ser uma bebida sagrada, mas era reservado à elite.

O imperador Moctezuma II, por exemplo, era um grande apreciador da bebida e, segundo relatos históricos, bebia até 50 chávenas de cacau por dia!

Para os Astecas, o cacau era um símbolo de força e virilidade. Chamavam-lhe “Xocoatl”, que significa “água amarga”, pois a bebida era preparada sem adoçantes e com muitas especiarias.

Outra diferença entre Maias e Astecas era a temperatura da bebida:

  • Os Maias bebiam cacau quente.
  • Os Astecas preferiam-no frio.

E foi com esta bebida que Moctezuma II recebeu Hernán Cortés em 1519. O conquistador espanhol não tardou a levar o cacau para a Europa, onde a sua história sofreu uma grande transformação.

Fotos de: Imagem de dlsd cgl e gate74 por Pixabay